COLCHÕES DE TREKKING
Quando falamos em equipamento de trekking em autonomia, uma expressão que frequentemente ouvimos é "The Backpacking Big 3". Esta expressão refere-se aos três equipamentos principais do nosso sistema de autonomia:
Transporte (Mochila)
Abrigo (Tenda, Tarp, Saco de Bivaque, etc)
Dormida (Saco de cama e colchão)
Neste artigo iremos focar-nos no colchão de trekking, que tem como principais funções separar-nos fisicamente do chão (para dormirmos confortáveis) e proporcionar isolamento térmico do solo, que na maioria das vezes se encontra a uma temperatura mais reduzida que o ar circundante.
Existem imensos fatores que devem ser considerados na escolha de um colchão de trekking e mergulhar nos sites de compra online sem saber o que estamos à procura pode ser uma grande dor de cabeça.
Vou abordar os aspetos mais importantes para que possas saber qual é o mais adequado para a tua próxima aventura de trekking!
Formas e TAMANHOS
Formas
Os colchões de trekking apresentam geralmente 2 formas diferentes:
A principal razão por detrás da criação do modelo em forma de múmia, é a diminuição de peso que advém, da utilização de menos material na construção do colchão, tal como acontece com os sacos de cama. Em contrapartida, a área do colchão diminui, o que pode tornar o colchão mais desconfortável especialmente para quem dorme de lado, ou para quem tende a movimentar-se mais durante a noite.
Tamanhos
Apesar de existirem apenas estas duas formas, o mesmo modelo pode apresentar diversas medidas. O mais importante é o tamanho do colchão ser adequado à tua altura. A maioria das marcas produz o mesmo modelo em tamanho pequeno, regular e grande.
Escolher, por exemplo, um colchão de modelo pequeno, se este for adequado à tua altura, vai reduzir-te preciosas dezenas de gramas na mochila!
Relativamente à largura existem normalmente duas opções, os modelos normais com cerca de 50 cm, e os modelos largos com cerca de 60 cm.
TIPOS:
O tipo de colchão é um dos aspetos mais importantes na tua escolha e vai permitir que faças uma filtragem nas opções disponíveis.
Existem 3 tipos de colchão que podem apresentar as formas e tamanhos anteriormente descritos:
Colchões insufláveis
Existem colchões insufláveis com características bastante distintas, desde colchões ultra leves perfeitos para trekking de travessia, a modelos mais pesados e grossos, perfeitos para acampamentos de fim-de-semana onde o transporte do material é feito maioritariamente de carro.
No entanto, todos funcionam através da insuflação de ar, para o interior do colchão, através da nossa boca, bombas de ar ou sacos de enchimento.
Alguns destes colchões possuem ainda materiais isolantes e/ou refletores no seu interior, de modo a permitir um melhor isolamento e/ou refletir o calor humano naturalmente produzido, características estas que causam uma melhoria significativa de conforto do colchão, especialmente durante as noites mais frias.
Caso sejam insuflados com ar proveniente da nossa respiração podem acumular humidade no seu interior, o que pode diminuir a sua performance e longevidade. Para diminuir esse risco aconselha-se a utilização de bombas ou sacos de enchimento. É também importante adotar boas práticas quando guardas o colchão, o mesmo deve ser estendido com as válvulas abertas.
Desvantagens:
Preço elevado
Risco de furo (é possível reparar no terreno mas é sempre um inconveniente)
Ruidoso (em alguns modelos)
Vantagens:
Peso reduzido
Arrumação
Dureza adaptável (adicionando ou retirando ar)
Colchões auto-insufláveis
Os colchões auto-insufláveis são bastante similares aos insufláveis, com uma pequena diferença, tal como o nome indica, enchem-se sozinhos. Isto deve-se à presença de uma espuma no seu interior, que no momento em que se abrem as válvulas do colchão, expande automaticamente.
Dos 3 tipos de colchões existentes, estes tendem a ser os mais pesados, são mais caros que os modelos simples de espuma, e apesar de mais resistentes podem, tal como os colchões insufláveis, sofrer rasgos ou furos. Caso esta situação ocorra, e por alguma razão seja impossível reparar, o isolamento fornecido é maior que num colchão insuflável.
Desvantagens:
Peso elevado
Risco de furar
Elevado Volume
Vantagens:
Bom isolamento
Dureza adaptável (adicionando ou retirando ar)
Mais resistentes que os insufláveis
Preço económico
Colchões de espuma
Estes são os colchões mais básicos e os primeiros que foram desenvolvidos, ainda que atualmente existam algumas tecnologias que os tornam bastante melhores que as suas primeiras versões.
Estes colchões são basicamente compostos por uma espuma densa, com pequenas células de ar. É através deste ar encapsulado no interior da espuma que o colchão ganha as suas capacidades de isolamento e amortecimento. Estes colchões são normalmente enrolados ou dobrados em pequenos retângulos.
Não existe o perigo/possibilidade de furos ou pequenos rasgos afetarem o desempenho do colchão. Por essa razão podem ser transportados no exterior da mochila, sem receio que sofram algum tipo de dano. Podem ainda funcionar como “sit pad” em acampamento ou ser usados por baixo de um colchão insuflável para aumentar o seu isolamento ou para prevenir furos em superfícies mais irregulares.
Desvantagens:
Baixo índice R
Baixo conforto
Elevado volume
Vantagens:
Peso mais reduzido
Preço mais económico
Resistência
ÍndIce R
O índice R ou “R Value” é uma das características que encontramos nas descrições de todos os colchões e é um dos fatores mais importantes a ter em consideração no momento da compra de um novo colchão. O índice R (Thermal resistance Rating) de um colchão é uma medida que demonstra a capacidade do colchão para resistir a flutuações de calor, por outras palavras a capacidade de isolamento do mesmo.
Quanto maior for o valor deste índice, melhor performance terá o colchão, e consequentemente melhor capacidade de isolar o utilizador do frio proveniente do solo.
Atualmente os fabricantes de colchões utilizam o mesmo teste e certificação para calcular este valor, pelo que este valor é um ótimo meio de comparação entre diferentes colchões, independentemente da marca, modelo, ou tipo.
Índice R de acordo com as condições expectáveis:
R1 a R2 ➔ Verão (10°C)
R2 a R4 ➔ Primavera/Outono (0°C)
R4 a R5 ➔ Inverno (-5°C)
R5 a R5+ ➔ Inverno em Altitude (-15°C)
É importante esclarecer que um colchão com índice de 5 pode ser usado durante o verão sem qualquer problema, uma vez que não se irá tornar demasiado quente e consequentemente desconfortável.
Outra das características interessantes do índice R é o seu valor cumulativo, pelo que um colchão com o índice R de 4 terá o dobro da capacidade de isolar de um colchão com um R de 2. Deste modo, os colchões podem ser usados em conjunto e o seu valor de R pode ser somado diretamente, pelo que se juntarmos um colchão de espuma com o índice R de 1.5, com um colchão insuflável com o valor de 4, teremos o isolamento igual ao de um colchão com o valor de 5.5. Esta estratégia pode ser utilizada quando queremos iniciar-nos no mundo do trekking invernal, mas não queremos investir num novo colchão.
RELAÇÃO ENTRE Colchões de Trekking e Sacos de cama
Tal como ocorre com os colchões, os sacos de cama são sujeitos a testes de modo a possibilitar uma comparação entre diversos modelos. Estes testes resultam em classificações de temperatura (Extremo, Limite e Conforto) e são efetuados com um colchão de índice R 5.5.
Isto significa que sempre que usarmos um colchão com um índice R inferior a 5.5, o nosso saco de cama terá uma performance inferior à tabelada.
Se usarmos um colchão com um índice superior a 5.5, o nosso saco de cama terá a performance de um saco ligeiramente mais quente.
Na prática, caso desejemos utilizar um saco de cama em temperaturas próximas dos seus valores de conforto, deveremos procurar utilizar um colchão com no mínimo um valor de R 5.5 ou próximo deste.
Conselhos para a aquisição
Tipo de Atividade
Tal como acontece com a maioria do equipamento que usamos em montanha, o destino e uso pretendido é por vezes um dos fatores mais relevantes no momento de realizar uma nova aquisição. Como seria de esperar, o mesmo ocorre com os colchões de trekking. Vou realizar 3 distinções, no que diz respeito ao tipo de atividade, que posteriormente condicionam que tipo de colchão deve ser adquirido.
Campismo
Quando realizamos uma atividade de campismo, num parque de campismo, ou num local que iremos aceder através de carro, o conforto torna-se o principal fator a ter em consideração no momento de adquirir um colchão, pois o peso e volume passam para segundo plano.
Podemos escolher um colchão grosso, largo e bastante confortável sem preocupações em relação ao seu peso e volume. Neste espectro de atividade os colchões auto-insufláveis tendem a ser a melhor opção. Dentro dos colchões auto-insufláveis existem colchões mais pesados e volumosos usados maioritariamente para este tipo de atividades, que de uma forma geral são bastante mais acessíveis que as suas versões ultraleves.
Fast and Light
No espectro oposto temos as atividades “fast and light”, que podem ser desde travessias de curta duração, onde queremos ser o mais rápidos possível, a pequenas e rápidas ascensões.
Neste tipo de atividade o peso e o volume são os fatores mais relevantes a ter em consideração, podendo o conforto ser um fator secundário. Os colchões insufláveis ou os colchões de espuma são os mais adequados, principalmente devido ao seu peso reduzido. Devemos procurar opções ultraleves, que apresentem um índice de R adequado à época e temperatura que esperamos encontrar.
Ainda que os colchões insufláveis sejam de uma forma geral mais confortáveis, muitos dos praticantes de atividades deste gênero optam por usar colchões de espuma pela sua simplicidade e durabilidade.
Trekking
Entre o campismo e o “Fast and light” temos o trekking, que poderá tender para ambos os lados do espectro (Rápido e leve, ou pesado e confortável) dependendo do tipo de atividade que pretendemos realizar. No entanto, o peso será sempre um fator a ter em consideração na maioria dos trekkings, pelo que a melhor opção será escolher um colchão insuflável, com um peso que consideremos adequado a transportar nas nossas mochilas. Mais uma vez não descurar a importância de adquirir um colchão com um índice R adequado à nossa atividade/época do ano.
Espessura e Largura do Colchão:
No que diz respeito à altura do colchão, é importante ter em atenção que quanto mais alto o colchão for, mais confortável será, especialmente para aqueles que durante a noite adotem uma posição lateral.
Tal como referido anteriormente, é possível encontrar colchões com duas larguras distintas, a largura padrão com cerca de 50 cm, e os modelos largos com cerca de 60 cm. A não ser que o objetivo seja comprar o colchão mais leve e compacto do mercado, os colchões mais largos são sempre a melhor opção, pois o conforto que advém dos 10 cm adicionais é efetivamente relevante, e o peso e volume tendem a não ser gravemente afetados (sendo a diferença normalmente inferior a 100gr). Relevante, e por vezes esquecido, é o espaço interior da tenda onde o colchão será usado. Certos modelos de tendas para duas pessoas, possuem apenas 110cm de largura, o que não é suficiente para colocar 2 colchões de 60cm de largura.
Peso
O peso, é uma das principais características que devemos ter em conta quando escolhemos um novo colchão. No entanto, a busca pelo ultraleve tende a levar a um aumento exponencial do preço do equipamento.
Existem milhares de colchões e consequentemente diversos pesos e volumes, que servem diferentes propósitos, no entanto se o teu objetivo é a aquisição de um colchão para trekking em autonomia, aqui ficam algumas linhas orientadoras no que diz respeito ao peso expectável de acordo com os diversos tipos de colchão.
Tipo de Colchão - Peso
Colchões insufláveis - 300g a 900g
Colchões auto-insufláveis - 600g a 1000g
Colchões de espuma - 300g a 500g
Durabilidade e Resistência
A durabilidade e a resistência são dois fatores que caminham no sentido contrário ao peso (ultraleve), na maioria dos equipamentos de trekking e montanha. Os colchões insufláveis ou auto-insufláveis apresentam uma durabilidade inferior aos colchões de espuma, no entanto, apresentam as suas vantagens. Se optarmos por escolher um colchão deste tipo é importante escolher o local de acampamento com algum cuidado, de modo a não dormirmos em cima de uma rocha ou ramo afiado, que possa perfurar o colchão.
À parte dos cuidados gerais durante a sua utilização, no momento de aquisição existem também algumas informações que nos são fornecidas pelos fabricantes que nos ajudam a compreender a durabilidade do colchão. O “denier rating”, por vezes descrito apenas por um D maiúsculo (exemplo 75D), tem uma correlação direta com a resistência do tecido, este valor representa a espessura das fibras utilizadas e por consequência quanto maior este valor, maior será a resistência tecido.
Na maioria dos casos estes valores encontram-se entre 30D e 65D (relativamente a colchões), sendo que existem colchões super resistentes que chegam a apresentar tecidos de 100D. No sentido oposto temos colchões com valores de 15D e 20D, que apesar de ultraleves, necessitam de um maior cuidado na sua utilização.
No que toca a materiais, a maioria dos colchões é feito com tecidos de nylon ou poliéster. O poliéster tende de uma forma geral a ser mais resistente, no entanto mais pesado que o nylon.
Existem ainda fabricantes que optam por construir o colchão com tecidos de diferentes espessuras, utilizando um tecido mais resistente na base do colchão (60D-100D) e um tecido mais leve (20D-30D) na parte superior que não entrará em contacto com o chão, conseguindo assim um meio termo entre peso e resistência na maioria das vezes interessante.
Ruben Antunes
Desde muito cedo que a descoberta e exploração de espaços naturais é um dos grandes fascínios do Ruben. É também instrutor de esqui e guia auxiliar de Canyoning. Desde os Alpes até ao Quirguistão, o trekking de travessia é a sua ferramenta para a exploração e imersão em novos locais.